Caminhando num Oceano sem fim...
Encontrei a estrada envolta
e não vi seu final.
Tinha sonhos de distância
que permaneciam em criança
com medo de se revelar.
E escrevi minha história,
mas a tinta acabou.
Não era feita imortal,
nem feita para tal
na ferida que deixou.
Era só mais um conto
que ninguém soubera contar
e o deixei acabar.
E no final aquela estrada ao amanhecer,
para só conseguir escrever,
escrever e nada entender...
António Soares
25-03-2005
LIBERDADE PARA VOAR
A sós com o passarinho, observei, embasbacado, a beleza única do animal. Abruptamente, segurei gaiola nas mãos. Os olhos atentos da ave voltaram-se para mim, analisando o desconhecido. No olhar, podia-se sentir a pureza que jamais seria corrompida.
Abri a portinhola da gaiola e agarrei a pequena ave, nas suas mãos. Uma comunicação silenciosa se fez, através dos olhares imobilizados.
Dirigi-me à janela; em seguida soltei o passarinho, elevando de uma só vez seus braços aos céus..
Pelas árvores verdejantes do parque eu ainda podia ver o ilustre animal, alternando seus voos e pousos, entre peripécias. Nas asas da liberdade, também voava, realizando os meus mais infantes sonhos, delírios de uma mente sedenta de libertação.
No fim, eu ouvia as vozes da natureza falando e entendi, por sons compreendidos somente pela pureza, que o homem pode até transformar a vida e construir gaiolas, mas seu verdadeiro valor, consiste de fato, numa atitude que exige muito menos dele: abrir as portas de suas prisões e se integrar, assim como os pássaros, à fonte de toda a sua existência, a natureza.
A alegria que tive não tem palavras que posso transmitir, foi de grande emoção.
António Soares
15-03-2005
SINTO-ME MAR
Sinto-me mar
Sempre que te espero
respirando fundo o ar
enquanto o teu suor
não ancora em mim
silencia lá em cima a lua
e eu aqui a olhar
quem vem,
o horizonte nada sabe dizer
sobre as águas
que estão a te levar,
muito menos sobre aquelas
que irão te trazer
Essas nuvens ao redor
de nada servem
se apenas dançam,
mensageiras do mar,
elas transbordam os rios
semeiam os campos
mas deixam o teu vazio
de tão pouco me querer
e muito mais querer o mar
Sinto-me mar
sempre que estás tão distante,
deixo livre o meu olhar
fazendo do horizonte
tua íris e teu altar,
quando estás perto,
sinto-me cais, limo nas pedras,
ir e vir de mastros,
não te sinto já tão longe
meu lábio já não esconde
que este sol vai nos queimar.
Ah, a ilusão plena de sorrir
ao ouvir-te tão vadia
com as mãos cheias
as marés cheias
mas, no fim, só o vazio
de tão pouco me querer
e muito mais querer o mar.
António Soares
08-03-2005
Saudade
Da amizade,
do amor,
é a presença do ausente,
é dor gostosa, dor alegre,
que vai direitinho ao coração.
Sentir saudade
é querer bem perto
o bem-querer.
É pensar em ir, querer voltar.
É buscar ver o que não alcança a vista.
Sentir saudade é mergulhar no infinito,
e penetrar na solidão,
buscando a companhia,
imaginando sorrisos,
colorindo sonhos.
Saudade é transfusão de sentimentos,
convite de reconforto,
carinho infinito, infinita ternura.
Saudade é alegria que fere,
tristeza que alivia.
António Soares
04-03-2005
CORAÇÃO
Sou vida...
Sou pulsante,
às vezes sou errante
guiado pela emoção.
Sou paixão...
Sou sentimento,
às vezes sou lamento,
sou apenas ilusão,
sou alma entristecida,
sou enigma,
Sou coração!
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