SENTADO À ESPERA
Estou sentado na sala de espera de umas “urgências” apinhadas de desalmadas, estão todos encolhidos, tremendo, sofrendo às escondidas. Temos de continuar a alimentar a chama da ferida interior.
Aqui é a secção dos desalmados por dentro, doentes sem cura. Tanto tempo gasto sem explodir. Há quanto tempo esse rastilho chegou ao fim, os outros à volta de braços caídos, olhando para longe, uns gemem, outros gritam, outros já sem fala estremecem antes de bolsar no ombro de cada um. Por vezes passam em portas à nossa frente, elas batem e voltam a bater, a discussão instala-se quando o doutor exaltado está perto de dizer que a morgue se situa no andar de baixo, nada de espanto, tendo em conta a quantidade de almas atormentadas que se acotovelam por essas estradas, lutando por um lugar nas riscas do pavimento. Uns escuros outros mais claros continuam todos esperando, cansados nos bancos com cheiros lacrimosos entranhados nos estofos, uma mistura de suor da pele apodrecida com a cinza sanguínea derramada, e quente. Os azulejos do chão dos corredores estão muito bem polidos pelos joelhos da empregada, cá não queremos mais espelhos, cada vez que a estúpida cara de sorriso amarelo chama mais um na fenda da porta temos de virar a cara ao lado, chama uma vez ou dez, irritada é mais um que tem de levar ao colo, a verdade é que já entraram todos e não me chamaram a mim.
Torno-me escravo desta sala de espera, sei que continuarei à esfera, mas já nem sei se me posso levantar já que os meus membros estão presos e cansados, preciso de uma cura, um tratamento ou de um simples... Corro risco da vida mas continuarei sem olhar três vezes para cada lado antes de atravessar, desta vez saltarei essas estradas como quem passa de escada para escada sem caír.
António Soares
29-04-2005
SEMPRE
Quis falar de idades, pensei que fosse fácil, mas enganei-me. Nunca escrevi tanto e nunca apaguei tanto o que escrevi. É difícil. É ainda mais difícil quando o assunto se assemelha à realidade. Não me preocupa como estarei daqui a dez/vinte anos, mas preocupa-me, e muito, como estarão aqueles de quem eu gosto, aqueles que me são muito importantes. A diferença de idades é, um tanto ou quanto, um pouco grande. É isso que me assusta; é isso de que fujo, de que me tento iludir, pensando que eu crescerei, mas que eles ficarão sempre assim. Suspensos no tempo, com a mesma imagem, com o mesmo espírito. É esse o meu maior medo. O medo de os ver perder e isso, isso eu não posso tolerar, não posso nem quero consentir. Não quero! E isso basta.
A minha maior fraqueza são os sentimentos e as emoções que não consigo controlar.
Hoje apetecia-me tanto vê-los, todos eles. Olhá-los e sentir que os vou ter sempre comigo. Sempre.
António Soares
29-04-2005
AMOR, ARDOR...
Qual a razão da construção?
Será a emoção?
Construir uma vida,
construir uma mansão.
É muito bonito e alegra-nos,
De forma material, mas por vezes algo nos escapa,
no meio de tanta luxúria.
Em vez disso porque não construir sem pavor,
um Castelo de Amor?
António Soares
22-04-2005
DESCANÇA EM PAZ QUERIDO PAI
DESPEDIDA DE AMOR
Todos sofremos,
Por amor,
Felicidade,
E dor.
Profundo amor,
Ardor e clamor.
Nestes últimos dias,
Recordo o meu amparo,
Meu querido Pai.
Sei que longe de onde estás,
Sofres,
Longe de Te poder ajudar,
Sofro, choro...
Sei que a doença se prolonga.
Pouco tempo durará...
Apenas quero Te agradecer,
Tudo...
Sem jamais poder negar,
O fruto do amor que me destes,
Agradeço-te tudo meu querido Pai.
Sonha bem, sonha para o resto da vida.
Estarás sempre comigo, pois sei que neste momento,
Sofres,
Muitas coisas contigo aprendi,
Ensinastes-me a VIDA...
A educação e o respeito.
Em tempos te odiei,
Lamento, pois fui desumano,
Jamais me esquecerei e sem perdão terei.
Agora que te vais,
Peço-te que me perdoes,
POIS GOSTO MUITO DE TI.
Vai-te, vai com Deus e com calma...
E perdoa-me.
Contigo muito aprendi,
E do meu ser decidi
Do que de tudo sobrevivi
Foi devido a Ti.
DESCANÇA EM PAZ QUERIDO PAI.
AMOR DE FILHO ETERNO
2005-04-16
Talvez!
Queridos amigos,
Por vários motivos,
profissionais,
ocupacionais,
mas mais pessoais,
estarei ausente durante muito tempo...
Sabe-se lá se um dia, aqui voltarei,
será o meu último artigo?
votar numa vida do antigo.
a qualquer momento,
para esquecer qualquer sofrimento.
Fiquem bem.
António Soares
11-04-2005
(Chauxau)
DUAS HISTÓRIAS, DOIS DESTINOS
"JULGAMOS A NÓS MESMOS PELO QUE NÓS SOMOS CAPAZES DE FAZER, ENQUANTO OS OUTROS NOS JULGAM PELO QUE JÁ FIZEMOS..."
1ª História
Certa vez um garoto entrou na sala de emergência de um hospital depois de ter sido atropelado.
O motorista que o socorreu, ao ser interpelado para efectuar o depósito necessário ao atendimento, informou que não possuía, naquele momento, dinheiro ou cheque que pudesse oferecer em garantia, mas certamente, se o hospital aceitasse, poderia efectuar o depósito na primeira oportunidade.
O atendente, na impossibilidade de liberar o atendimento, mas, com a vantagem de ter um dos directores do hospital, que também era médico, de plantão naquele momento, resolveu consultá-lo.
Todavia, por não ter dinheiro nem garantias para o tratamento, não liberou o atendimento, fato que levou a criança atropelada a falecer.
O director, novamente chamado para assinar o atestado de óbito do garoto, ao chegar para o exame cadavérico, descobre que o garoto atropelado era seu filho, que poderia ter sido salvo, se tivesse recebido atendimento.
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2ª História
António, um pai de família, um certo dia, quando voltava do trabalho, dirigindo num trânsito bastante pesado, deparou-se com um senhor que dirigia apressadamente.
Vinha cortando todo o mundo e, quando se aproximou do carro de António, deu-lhe uma tremenda fechada, já que precisava atravessar para a outra pista.
Naquela hora, à vontade de António foi de xingá-lo e impedir sua passagem, mas logo pensou:
- Coitado! Se ele está tão nervoso e apressado assim... Vai ver que está com um problema sério e precisando chegar logo ao seu destino, pensando assim, foi diminuindo a marcha e deixou-o passar.
Chegando em casa, António recebeu a notícia de que seu filho de três anos havia sofrido um grave acidente e fora levado ao hospital pela sua esposa. Imediatamente seguiu para lá e, quando chegou, sua esposa veio ao seu encontro e o tranquilizou dizendo:
- Graças a Deus está tudo bem, pois o médico chegou a tempo para socorrer nosso filho. Ele já está fora de perigo.
António, aliviado, pediu que sua esposa o levasse até o médico para agradecer-lhe. Qual não foi sua surpresa quando percebeu que o médico era aquele senhor apressado para o qual ele havia dado passagem!
DUAS HISTÓRIAS, DOIS DESTINOS
"Esteja sempre alerta para ajudar o próximo, independentemente de sua aparência ou condição financeira".
"Procure ver as pessoas além das aparências".
Imagine que por trás de uma atitude, existe uma história,
um motivo que leva a pessoa a agir de determinada forma."
Oceano
Cada palavra
Que da fala
Voa,
Nem sempre exala
A gota que escoa
Do oceano da minha alma.
António Soares
02-04-2005
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